Alerta na Europa: secas, incêndios e calor em 2022 revelam retrato “assustador”
A Europa viveu em 2022 o Verão mais quente de que há registo, com direito a grandes incêndios florestais, condições de seca e ondas de calor intensas, revela relatório anual do programa Copérnico.
Em termos mundiais, os oito últimos anos foram os mais abrasadores, sendo 2022 o quinto mais quente de que há registo. Diferentes regiões do planeta testemunharam temperaturas recorde – e a Europa é um bom exemplo disso, tendo vivido o Verão mais quente de que há notícia, com 1,4 graus Celsius acima da média, e 0,3-0,4 graus Celsius acima do anterior Verão mais quente, registado precisamente no ano anterior.
Grande parte da Europa ocidental experimentou ondas de calor em 2022. As temperaturas mais altas nessa parte do continente chegaram a patamares dez graus Celsius mais altos do que as temperaturas máximas típicas do Verão. As temperaturas no Reino Unido ultrapassaram a barreira dos 40 graus Celsius pela primeira vez. O Sul da Europa testemunhou um número recorde de dias com “stress térmico muito forte”. A temperatura média da superfície da água dos mares europeus foi a mais quente de sempre.
Menos neve, solos secos
Há ainda o problema da seca, que tanto afligiu a Europa em 2022. Houve não só baixa precipitação ao longo do Verão, mas também singulares ondas de calor, dando origem a condições de seca prolongada que afectaram sectores como a agricultura, os transportes fluviais e a energia.
A anomalia anual da humidade do solo foi a segunda mais baixa no último meio século (ainda que algumas áreas isoladas tenham apresentado em 2022 condições de humidade do solo maiores do que a média). Samantha Burgess, subdirectora daquele serviço do Copérnico, acrescentou que os países mediterrânicos – Portugal incluído – “tendem a continuar a enfrentar condições de seca esta Primavera e no Verão também”. “Os solos nos países mediterrânicos estão incrivelmente secos”, afirmou a cientista. “Muito provavelmente, vamos ter uma colheita agrícola reduzida este ano…”
No Inverno de 2021/2022, houve menos neve do que o habitual. Por outro lado, a chuva durante a Primavera também ficou abaixo da média em grande parte do continente. Esta combinação perigosa de pouca neve no Inverno e muito calor no Verão favoreceu uma perda recorde de gelo dos glaciares nos Alpes, algo equivalente a cinco quilómetros cúbicos. Durante a conferência de imprensa, Rebecca Emerton comparou este gigantesco volume de gelo à Torre Eiffel. Se colocarmos este cubo imaginário em Paris, veremos que ele teria 5,4 vezes a altura do monumento francês.
No que toca ao Árctico, 2022 foi o sexto ano mais quente da região, sendo que Svalbard (a área norueguesa do Árctico) viveu o Verão mais quente de que há registo. Este degelo contribui, já sabemos, para a subida do mar. Os dados disponíveis para os últimos seis meses de 2022 mostram, em consonância com as previsões científicas, que o nível médio do mar continua a aumentar, tendo alcançado um novo recorde no ano passado.
Fonte: Público Azul, consultado a 23 de abril de 2023.