Uma onda de calor, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), “ocorre quando num intervalo de pelo menos seis dias consecutivos a temperatura máxima diária é superior em 5ºC ao valor médio diário no período de referência” (IM).
As ondas de calor têm um grande impacto na saúde humana e contribuem também para a criação de condições propícias à propagação de incêndios florestais.
A consequência deste fenómeno térmico extremo tem relação direta no Homem provocando alterações ao nível do seu estado fisiológico, em particular nos grupos de população idosa, crianças e pessoas com doenças de coração e vias respiratórias, para os quais deverão ser dirigidas ações de sensibilização e prevenção.
As temperaturas máximas para as quais se considera existir uma onda de calor variam muito ao longo do globo terrestre. As situações de calor extremo afetam de forma diferente as populações de regiões temperadas, como é o caso de Portugal Continental, e as que vivem em regiões normalmente mais quentes, que possuem uma aclimatação fisiológica e um estilo de vida adaptado.
A temperatura do corpo resulta de um equilíbrio entre a produção e a perda de calor. No caso da temperatura ambiente subir para valores muito elevados, o nosso organismo tem mecanismos que lhe permitem regular a temperatura, libertando calor. Um dos principais é a transpiração.
A transpiração consiste na libertação de água e sais minerais através da pele e é a evaporação da água à sua superfície que permite o seu arrefecimento. Quando o nosso corpo é exposto a temperaturas muito elevadas, numa tentativa de retomar o equilíbrio térmico, aumenta a produção de suor, e assim perde uma maior quantidade de água e sais minerais essenciais ao bom funcionamento do organismo.
De um modo geral, as ondas de calor que ocorrem em Junho, em Portugal Continental, encontram-se associadas a uma maior mortalidade do que ondas de calor com as mesmas características que ocorrem em Agosto, sugerindo que o corpo humano tem uma capacidade de aclimatação ao calor.
A sensibilidade do corpo humano a temperaturas elevadas é maior para valores de humidade relativa mais alta. Se a humidade relativa do ar for muito elevada o mecanismo de evaporação do suor é reduzido ou inibido, tornando a libertação de calor menos eficaz.
As ondas de calor são extremamente perigosas e, se não se tomarem as devidas precauções, podem provocar lesões irreversíveis no corpo humano devido a desidratação e, em algumas situações, causar a morte.
Idosos: Nos idosos os mecanismos de regulação da temperatura corporal já não funcionam tão bem como num adulto saudável, desidratando com facilidade. Geralmente têm muita relutância em beber líquidos, devendo ser incentivados a tal. Devem ingerir diariamente, pelo menos mais um litro de água, ou de outro líquido não açucarado, do que bebem normalmente. Uma boa hidratação nos idosos diminui o risco de doenças do coração e cardiovasculares, inclusive tromboses.
Doentes acamados: Muita roupa de cama aumenta a temperatura do corpo, favorecendo a desidratação, e aumentando, mesmo com uma boa higiene corporal, a possibilidade de contraírem doenças de pele como fungos e “escaras” (feridas na pele). Privilegie roupas feitas de algodão ou linho em detrimento das fibras sintéticas.
Outros grupos de risco: Indivíduos com obesidade, problemas renais, doenças cardiovasculares crónicas e comportamentos de risco (exposição prolongada a sol, ingestão excessiva de álcool etc.).
Efeitos no Corpo Humano
1 – Cãibras musculares
Em situações de muito calor a transpiração origina a perda de água e sais minerais. Normalmente, a compensação é feita apenas com água, levando a que o tecido muscular se ressinta da falta de sais, reagindo com contracções involuntárias dos músculos das pernas e abdominais que provocam dor (cãibras).
Sintomas
Contracções involuntárias dos músculos das pernas e abdominais; pele fria e húmida; temperatura corporal normal; sem alteração do estado de consciência.
Que fazer?
Repousar num ambiente fresco;
Remover roupas apertadas;
Massajar os músculos afectados de modo a aliviar a dor;
Beber água natural com uma colher de chá de sal por cada meio litro de água (a água deve ser bebida devagar durante várias horas até se recuperar dos sintomas).
2 – Exaustão pelo calor
A exposição a temperaturas muito elevadas e a grande perda de água e sais pode levar a uma situação de exaustão pelo calor.
Sintomas
Dores de cabeça; náuseas; vómitos; tonturas; fraqueza; cãibras; pele húmida e pálida; temperatura corporal normal ou ligeiramente aumentada.
Que fazer?
Repousar deitado num ambiente fresco;
Remover roupas apertadas;
Se possível utilizar soluções comercializadas para hidratação oral, caso contrário beber água natural com uma colher de chá de sal por cada meio litro de água;
Se a vítima estiver com vómitos ou inconsciente deverá ligar imediatamente para o 112.
3 – Golpe de calor
O golpe de calor corresponde a uma emergência médica. Quando exposto durante muito tempo a situações de calor extremo o organismo perde a capacidade de regular a temperatura. A temperatura interna sobe para valores muito elevados podendo provocar lesões internas graves.
Sintomas
Pele vermelha, quente e seca; pulsação rápida e fraca; temperatura corporal muito elevada; vómitos, perda da consciência.
Que fazer?
Ligue imediatamente para o 112 ou leve a vítima para o hospital mais próximo;
Remover roupas apertadas;
Enquanto não chegar ajuda médica deve-se tentar arrefecer a vítima colocando compressas frias ou mesmo sacos com gelo nas virilhas, axilas e peito (zonas do corpo onde ocorre maior transferência de calor) ou mergulhar a vítima em água tépida (20. º c a 25.º c);
Elevar as pernas;
Se a vítima tiver vómitos deve ser colocada em posição lateral de segurança;
Não dar líquidos (a hidratação deve ser feita em meio hospitalar).
Medidas de Autoprotecção
Em dias de muito calor
Ingira água ou outros líquidos não açucarados com regularidade, mesmo que não sinta sede. Pessoas que sofram de epilepsia, doenças cardíacas, renais ou de fígado ou que tenham problemas de retenção de líquidos devem consultar um médico antes de aumentarem o consumo de líquidos;
Se tem idosos em casa incentive-os a beber pelo menos mais um litro de água por dia para além da que bebem normalmente. Eles vão rejeitar mas deve insistir;
Procure manter-se dentro de casa ou em locais frescos;
Em casa, durante o dia, abra as janelas e mantenha as persianas fechadas, de modo a permitir a circulação de ar;
Durante a noite, abra bem as janelas para que o ar circule e a casa arrefeça;
Evite sair à rua nas horas de maior calor, mas se tiver de o fazer, proteja-se usando um chapéu ou um lenço;
Vista roupas leves de algodão e de cores claras. As cores escuras absorvem maior quantidade de calor;
Evite usar vestuário com fibras sintéticas ou lã. Provocam transpiração, podendo levar à desidratação;
Evite fazer exercício físico ou outras actividades que exijam muito esforço;
Evite estar de pé durante muito tempo, especialmente em filas e ao sol;
Se tiver oportunidade, desloque-se nas horas de maior calor para locais com ar condicionado;
Um pequeno duche de água tépida arrefece o seu corpo rapidamente aumentando o seu conforto. Se o seu corpo estiver muito quente não deve tomar banho com água muito fria;
Quando Viajar:
Viaje de preferência a horas de menos calor ou à noite;
Quando viajar de automóvel faça-o por períodos curtos. Se tiver que fazer grandes viagens leve consigo água ou outros líquidos não alcoólicos e não açucarados em quantidades suficientes;
Proteja os passageiros da exposição ao sol, cobrindo as janelas com telas apropriadas, que não dificultem ou prejudiquem a condução;
Nunca viaje com as janelas totalmente fechadas a não ser que tenha ar condicionado no seu carro;
Se viajar com crianças mantenha-as o mais arejadas possível, vestindo-lhes o mínimo de roupa e dando-lhes frequentemente água a beber:
Se viajar com bebés tenha em atenção que o leite é a sua refeição normal e que no intervalo entre as mamadas devem beber bastante água;
Tenha atenção aos idosos que viajam consigo. Não devem vestir de negro nem roupas de fibra sintética e devem também beber um suplemento de água;
Coma poucas quantidades de cada vez e várias vezes ao dia;
As refeições devem ser ligeiras, sopas frias ou tépidas, saladas, grelhados, comidas com pouca gordura e pouco condimentadas, acompanhadas de preferência com água, chá fraco ou outros líquidos não açucarados;
Não beba bebidas alcoólicas. Num organismo desidratado são absorvidas rapidamente podendo levar a estados de embriaguez com maior facilidade.
Na praia:
Vá à praia apenas nas primeiras horas da manhã (até às 11 horas) ou ao fim da tarde (depois das 17 horas). Mantenha-se à sombra, use chapéu, óculos escuros e cremes de protecção solar. Uma exposição ao sol prolongada leva a queimaduras de pele que só por si aumentam a perda de líquidos.
Não se esqueça que os bebés e os idosos são especialmente sensíveis às ondas de calor.
Fonte: ProCivc, Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, consultado a 7 de julho de 2022.