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Os Campos Masseiras: o vinho que vem da praia (4/4)

Quando os campos masseira faziam parte do currículo escolar lembro-me de ter ficado maravilhada com o facto de este tipo de agricultura única no mundo ser originária daqui, da Póvoa de Varzim (das freguesias Estela, Navais e Aguçadora) e do concelho vizinho, Esposende (Apúlia e Fão). Não tenho memória do que se disse sobre as vinhas, que eram plantadas para fixar as areias nos valos, nem fazia ideia se saía dali vinho que valesse a pena. Até ter lido sobre o projecto de Ricardo Garrido, em parceria com o reconhecido enólogo Márcio Lopes. Logo ali ficou decidido que queríamos o Tubarão na vinharia.

Ele, o Tubarão, entrou na vinharia com o Ricardo Garrido neste tempo de confinamento. Por isso, não pudemos ter as grandes conversas que, normalmente, giram à volta do vinho. Soubemos que o Ricardo, que vive nesta zona, comprou as uvas aos agricultores, pediu ao Márcio Lopes para ver o que conseguia fazer e perdeu tempos infinitos com burocracias.

Enquanto falava connosco, o Tubarão, um palhete feito no estilo Pet-Nat*, brilhava em cima da mesa, à medida que ia libertando gotas em tons salmão e fazia crescer o interesse em prová-lo. Mas, antes disso, vamos saber um pouco mais sobre as masseiras.

Foram os monges, quem mais?

Então, este tipo de agricultura foi inventado por monges beneditinos da abadia de Tibães, no século XVIII, na mesma altura em que alguns destes monges frequentavam as praias da Póvoa de Varzim como terapia (a associação das duas coisas é extrapolação nossa).

A técnica destes monges consistia em fazer uma cova larga e funda nas dunas, de forma rectangular, e nos cantos dessa cova, nos ‘’valos’’, cultivar vinha para proteger a área central dos ventos. Nesta área, apesar da proximidade do mar, existe água doce e utilizavam-se os rebaixamentos do terreno para os campos ficarem mais próximos do lençol freático. Desta forma, ficavam também mais protegidos dos ventos e as vinhas à volta ajudavam a criar um efeito de estufa que favorecia o desenvolvimento das culturas. A fertilização com sargaço, fazia o resto.

Como a areia transmite mal o calor, ficando retido à superfície, as vinhas não podiam tocar no solo (basta lembrarmo-nos do momento em pisamos a areia com os pés descalços no pico do Verão). Assim, implementou-se um sistema de torniquetes, que consiste em levantar as videiras com estacas a um metro e meio dos solos. Isto permitiu um aumento da produção, que levou a uma generalização deste tipo de agricultura a partir do início do século XX, quando até aqui só existiam 20 proprietários a trabalhar nestes terrenos.

Nos dias de hoje, com a opção pelas estufas, as masseiras estão em vias de extinção e o que Ricardo Garrido espera conseguir com este projecto é resgatar uma cultura única.

A primeira colheita (2019) resultou numa produção de 600 garrafas e uma delas estava a brilhar em cima da nossa mesa (lembram-se?).

O vinho foi despejado nos copos e provado à distância que as actuais circunstâncias obrigam e, mesmo sabendo que os Pet-Nat são vinhos diferentes, conseguiu não só surpreender-nos como maravilhar-nos.

*Os Pétillant-naturel, que significa espumante natural, são vinhos produzidos seguindo o método Ancestrale, que consiste em engarrafar o vinho na primeira fermentação, quando o açúcar ainda não se converteu em álcool. A fermentação continua dentro da garrafa, gerando o gás carbónico. Aqui não são adicionados sulfitos, já que o próprio dióxido de carbono produzido pela fermentação natural, vai actuar como um antioxidante.

Fonte: Tua Wine, consultado a 12 de fevereiro de 2023.

Os campos Masseiras: fertilização feita nas masseiras (3/4)

A fertilização era feita com recurso a sargaço e pílado.

A sua apanha e recolha foi muito importante para aumentar a fertilidade dos solos arenosos. O pilado (Polybius henslowi) trata-se de um caranguejo rico em cálcio e magnésio, que combate os nemátodes. O seu alto teor em cálcio possibilita ainda uma melhor agregação dos pedes do solo. Este sistema de fertilização já era utilizado muito antes do nascimento deste sistema de produção, mas os materiais eram transportados apenas para terrenos próximos.

No passado, com o aparecimento do foral, a apanha do sargaço foi dada exclusivamente aos agricultores que trabalhavam nas masseiras. Também a Igreja impôs ordens, impedindo a apanha aos domingos e feriados. E mais recentemente foram impostas regras para que se gerisse a sua apanha, pois era um recurso escasso e passou apenas a ser permitida a sua apanha em épocas específicas.

No sargaço as principais espécies utilizadas são Sacchoriza polyschides e Laminaria hyperborea. Estas contêm alginatos, o que permite aumentar a retenção de nutrientes e água (uma vez que permite a subida da água por capilaridade). Este composto é colocado sempre no inverno, com o intuito das chuvas dissolverem e lixiviarem o sal. Assim, esta incorporação permitiu transformar solos arenosos (não propícios à agricultura) em terrenos agrícolas.

Atualmente as masseiras enfrentam uma série de problemas devido à substituição dos fertilizantes naturais por fertilizantes de síntese, devido à venda de areias dos moios (utilizadas sobretudo na construção civil) e devido à implantação de estufas.

A destruição dos moios tornou as masseiras maiores mas estas não apresentam tanta proteção conta os ventos. Os taludes foram substituídos por muros de tijolo e a paisagem foi, consequentemente, degradada.

A implementação de estufas nestes locais levou ao aparecimento de um microclima desfavorável devido à elevada humidade no seu interior, ao deficiente arejamento e ao aparecimento de pragas e doenças.

O lençol freático sofreu contaminação devido à substituição de corretivos orgânicos naturais por fertilizantes de síntese.

Acrescenta-se ainda que as masseiras têm vindo a ser substituídas por questões económicas, pois apenas fornecem rendimentos para autoconsumo.

Fotografias

Fontes: Câmara Municipal da Póvoa de Varzim e A Cientista Agrícola, consultado a 12 de fevereiro de 2023

Os campos Masseiras: sistema de Produção hortícola e contexto histórico (2/4)

Os sistemas de produção desta região dividem-se essencialmente em duas modalidades: sistema tradicional e empresarial.

A horticultura tradicional é efetuada em “campos masseiras”1. Estes agro-sistemas eram implantados nas dunas secundárias, no Noroeste Litoral de Portugal.

Ocupavam uma faixa litoral que se estende cerca de 6 a 10 km. Têm uma forma predominantemente retangular (o que facilita a drenagem superficial) e com um ligeiro declive para drenagem, sendo a sua dimensão aproximada de 1000 a 10000 e têm uma profundidade de aproximadamente 3 m (tendo sido rebaixados artificialmente por escavação).

As laterais do campo são designadas de moios, valos ou valados. Estes campos possuem estruturas para rega e drenagem (sistema de sangramento) que atenuam os efeitos desfavoráveis para as culturas inerentes à subida do lençol freático.

O rebaixamento é efetuado para que o campo fique mais próximo do nível freático o que é benéfico para a cultura pois permite que as plantas tenham acesso à água que necessitam para o seu desenvolvimento. Para além disso, protege as culturas dos ventos marítimos carregados de areia e sal, diminuindo assim o risco de acama da cultura e a deposição de sais sobre esta, assim como, diminui o efeito abrasivo da areia.

Facilita a evaporação de água que provoca um efeito de estufa favorável ao desenvolvimento da cultura pois torna a amplitude térmica menor. Como resultado, a temperatura na proximidade do lençol freático é maior, aumenta a evaporação e a humidade aérea da masseira.

Os moios das masseiras são estabilizados pelo cultivo de Vitis vinífera (vinha, que apresenta rápido desenvolvimento) que é ainda utilizada na produção de vinho. São geralmente utilizadas castas brancas e a vinha não é enxertada (pé franco).

O facto de o solo possuir salinidade e ser arenoso não permite o desenvolvimento da filoxera (praga da vinha), visto que esta não consegue escavar túneis e portanto concluir o seu ciclo de vida.

A areia da masseira transmite mal o calor, que fica retido sobretudo à superfície, podendo atingir os 80ºC no Verão. Deste modo, a vinha não devia tocar no solo (caso contrário, a produção era reduzida e os seus frutos eram apenas utilizados como uvas de mesa) pelo que houve a necessidade de se implementar um sistema de torniquetes – ao esticar o torniquete impede-se que a videira toque no solo. Este sistema (também designado levantamento sobre estacas) permitia que a produção aumentasse em quantidade e qualidade.

Era ainda utilizado um contrapeso – pedra de tamanho considerável enterrada para levantar o arame que suporta a vinha.

Nas masseiras era comum efetuar-se as seguintes rotações que se apresentam no quadro seguinte:

Fotografias:

Fonte: A Cientista Agrícola, consultado a 12 de fevereiro de 2023

Os campos Masseiras: contexto regional: sistema de produção das masseiras (1/4)

Sabe o que são as masseiras?

Contexto regional: sistema de produção das masseiras

O sistema de produção das masseiras surgiu nas regiões de Póvoa de Varzim, Apúlia, Fão e Rio Cávado. O clima destas regiões é tipicamente ameno, húmido, mesotérmico com escassez de água no inverno e reduzida concentração de eficiência térmica. A temperatura anual média ronda os 13.5ºC a 14ºC e as regiões encontram-se livres de geadas durante sensivelmente sete meses. A precipitação média anual é de 1000 a 1450 mm e o vento vem do norte com uma velocidade média de 12.4 km/h (estes são os denominados de “ventos de nortada”). Relativamente aos solos são na generalidade arenosos (arenossolos háplicos) que garantem um balanço térmico que favorece a aptidão para a cultura de hortícolas, sendo esta ainda favorecida pela proximidade de mercados e boa rede viária.

Esta região possuí um lençol freático a pequena profundidade que, mesmo muito próximo do mar, não acarreta problemas para as culturas derivados da salinidade.

Fontes: ICFN e A Cientista Agrícola, consultado a 12 de fevereiro de 2023.

Miguel Esteves Cardoso – No Norte têm tudo

“Os nortenhos são honestos, sinceros, directos, bem humorados e generosos. Não se importam de ser desconcertantes. Dizem o que lhes vai na alma e incitam-nos a fazer como eles, a sermos livres.”

Vai-se ao Norte e vem-se de lá com a alma lavada e os olhos a brilhar de tanta coisa bonita que lá têm. A Maria João nunca tinha ido a Braga, a Guimarães e ao Gerês e desatava a chorar cada vez que era surpreendida por uma beleza.

Chorei quando vi o rio Minho do alto do Gerês e chorei quando vi dezenas de famílias em lautas merendas com geleiras gigantes, garrafões de vinho, pessoas a dormir com a cabeça em cima da mesa, crianças a brincar, homens a cantar, mulheres a falar alto, a fazer-nos rir.

Foi a sensação de inocência que se desprendia daquela gente, a certeza que não sabiam o que aí vinha: a massificação do turismo, a expulsão dos pobres, a destruição da simplicidade, disfarçada pela falsidade do cute e do typical para consumo de ignorantes apressados que usam o Instagram para validar o encontro deles próprios com as várias pseudoculturas pelas quais passam ao de leve.

No Norte são as pessoas do Norte que nos endireitam. Quando comecei uma longa descrição do vinho que eu queria, o empregado exasperou-se: “Já está a complicar muito, porra! Fique-se com esta garrafa e não me fale mais de vinho”.

Escusado será dizer que era um vinho verde magnífico, sem indicação do ano de colheita, sem a maldição da madeira e sem desvario alcoólico. Tinha 11 graus e um bocadinho de açúcar residual. Custou nove euros.

Os nortenhos são honestos, sinceros, directos, bem-humorados e generosos. Não se importam de ser desconcertantes. Dizem o que lhes vai na alma e incitam-nos a fazer como eles, a sermos livres.

Fonte: Miguel Esteves Cardoso Público, consultado a 23 de dezembro de 2022.

Siglas Poveiras – António Santos Graça – O Poveiro (4/4)

As marcas são a escrita do Poveiro.

Têm muita analogia com a escrita egípcia porque constituem imagens de objectos: Sarilho, Coice (imagem de parte da quilha de um barco) Arpão, Pé-de-Galinha, Grade, Lanchinha, Calhorda, Pena, etc.

As marcas estão nas redes, nas velas, nos mastros, nos paus de varar, nos lemes, nos bartedoiros, nos boiréis, nas talas, nas facas da cortiça, nas mesas, nas cadeiras, em todos os objectos que lhe pertençam, quer no mar, na praia ou em casa. A marca num objecto equivale ao registo de propriedade. O Poveiro lê essas marcas com a mesma facilidade com que nós procedemos à leitura do alfabeto.

Não são marcas organizadas ao capricho de cada um, mas antes simbolismos ou brasões de famílias, que vão ficando por herança de pais para filhos e que só os herdeiros podem usar.

Casos curiosos encontramos ao colher as nossas notas sobre as marcas, sobretudo quando, ao organizar a árvore de uma família, encontrávamos a velha tradição quebrada, isto é, quando verificávamos que na descendência não era seguida a fórmula usada para distinção da marca pela comunidade. Estes factos, curiosos e interessantes para esse estudo, ficam mais adiante anotados. (…)

(…) Estes são, digamos, os brasões de família.

Vejamos, agora, a forma engenhosa como essa marca serve de escrita a todos os membros duma família, com perfeito conhecimento de toda a comunidade.

Ao contrário do que sucede aos filhos de algo, o mais velho dos quais é que é o herdeiro do brasão.
Ver a gravura – Regras usadas pelos descendentes.

As grades, estrelas e cruzes servem também de brasões quando por si só constituem a marca, ou quand (…)
O chefe usa a marca brasão ; o filho mais velho põe-lhe ao lado um pique; o outro a seguir, dois piques; o outro três piques e assim sucessivamente até ao filho mais novo, que volta a usar a marca de família, porque é o seu legítimo herdeiro1. Estes piques são agrupados de formas diferentes: umas vezes, são alinhados; outras vezes, formam cruzes e estrelas; outras vezes, grades, conforme o número de piques2. Para se conhecer a que filho pertence a marca que nos apresentam, basta contar-se os piques que estão alinhados ou que formam as estrelas, grades ou cruzes3 que rodeiam o tronco da marca familiar. E sendo isto a fórmula corrente, tradicional, fácil é, portanto, a quem conhece o tronco da marca saber a quem pertence o objecto ou apresto marítimo onde a mesma se encontre.

Fácil nos foi chegar a esta conclusão nos estudos que fizemos, porque, invariavelmente, na organização das árvores familiares encontrávamos a linha recta desta tradição poveira.
(…)

Para saber mais… ler “O Poveiro” de António Santos Graça.

Siglas Poveiras: a misteriosa herança dos Vikings na Póvoa de Varzim (3/4)

Estão presentes em vários locais da Póvoa do Varzim e constituem uma incrível herança dos Vikings. Conheça a história e a origem das siglas poveiras.

Já alguma vez ouviu falar das siglas poveiras? Tratam-se de uma proto-escrita primitiva, um sistema de comunicação visual que foi usado durante muitos séculos na Póvoa do Varzim, especialmente nas classes piscatórias. Eram escritas sobre madeira, usando-se uma navalha para fazer a inscrição, mas podiam ser igualmente pintadas em barcos ou barracos de praia. Foram usados para recordar coisas, no passado, e, apesar de ser conhecida como “escrita” poveira, não constituía um alfabeto em si.

Eram usadas porque muitos pescadores desconheciam o alfabeto latino, e assim as runas adquiriram bastante utilidade. Mas como? Por exemplo, eram usadas pelos vendedores, no seu livro de conta fiada, e lidas e reconhecidas como nós reconhecemos um nome escrito no nosso alfabeto. Por sua vez, o valor em dinheiro era simbolizado por rodelas e riscos, que designavam os vinténs e os tostões, e que eram desenhados após o nome do indivíduo.

Outro uso comum era no peixe: o peixe apanhado na rede pertencia ao seu proprietário, e por isso os peixes eram marcados com sigla e entregues às mulheres dos donos da rede. Estes golpes eram feitos em diversos pontos do peixe. A tripulação de cada barco tinha igualmente uma sigla, usada por todos os tripulantes. Caso alguém mudasse de barco, mudaria também a sigla e passaria a usar a da nova embarcação.

As siglas entraram em uso na Póvoa de Varzim graças à colonização viking, entre os séculos IX e X, tendo permanecido na comunidade graças à endogamia e à proteção cultural por parte da população. Dessa forma, manteve-se presente esta herança da passagem dos vikings pelas nossas terras.

Aliás, as marcas poveiras foram usadas como brasão ou assinatura familiar, de modo a assinalar os seus pertences, um costume que também existiu na Escandinávia, onde estas marcas eram chamadas de “bomärken“.

As siglas, enquanto brasões de família hereditários, são transmitidos por herança, de pais para filhos, podendo apenas ser usadas pelos herdeiros. O pai passava a sua sigla para o filho mais novo, e aos outros filhos era dada essa sigla, mas com traços, chamados “pique”.

Portanto, o filho mais velho tinha um pique, o seguinte tinha dois, e assim por diante, até chegar ao filho mais novo, que não teria nenhum pique, herdando a mesma sigla que o pai. Isto porque, na tradição poveira, o herdeiro da família é o filho mais novo (algo que acontecia na antiga Bretanha e Dinamarca), porque seria esse filho o responsável por tomar conta dos pais quando estes se tornassem idosos.

Estas siglas poveiras foram estudadas, pela primeira vez, por António dos Santos Graça, no seu livro “Epopeia dos Humildes”, de 1952, que tem centenas de siglas e a história e tragédia marítimas poveiras. As siglas ainda podem ser encontradas em templos religiosos, não só na cidade e no concelho, mas também no noroeste peninsular, em especial no Minho e na Galiza.

Os templos religiosos são, portanto, um bom local de estudo das siglas, já que os poveiros costumavam gravar, nas portas de capelas ou montes, a sua marca, como um documento da sua passagem por ali. Isto pode ser visto em locais como a Nossa Senhora da Bonança, em Esposende, em Santa Trega (Santa Tecla) ou no monte junto a La Guardia, em Espanha. Outros locais onde se podem ver siglas poveiras são os templos da Senhora da Abadia, de São Bento da Porta Aberta, de São Torcato, e da Senhora da Guia.

No concelho, as siglas são encontradas em especial na Igreja Matriz (desde 1757), mas também na Igreja da Lapa e na Capela de Santa Cruz, em Balasar. Um objeto que seria de grande importância para o estudo destas siglas, a mesa da sacristia da antiga Igreja da Misericórdia, guardava milhares de siglas, uma vez que os poveiros as escreviam quando se casavam, como forma de registar o evento.

Infelizmente, esta mesa foi destruída quando a igreja foi demolida, perdendo-se assim uma fonte pormenorizada que poderia servir para melhor compreender estas marcas.

A 23 de setembro de 1991, inaugura-se, durante as festividades de Santa Trega, uma escultura que honra as siglas poveiras, lembrando a antiga porta, coberta de siglas, da capela de Santa Trega.

Com esta inauguração, veio da Póvoa de Varzim uma expedição, a bordo da lancha “Fé em Deus”, cujos pescadores subiram ao Trega e oraram na ermida dedicada à padroeira do Monte, seguindo antigos rituais, em que os pescadores iam ao monte rezar à santa para mudar os ventos, de maneira a poderem regressar a casa.

Isto demonstra um orgulho e uma vontade da população de manter vivas as tradições ancestrais, e a verdade é que, apesar de já não terem o uso de outrora, as siglas ainda são usadas em barracões e nos pertences de algumas famílias típicas. A Casa dos Pescadores da Póvoa de Varzim também aceita as siglas como forma correta de assinatura.

Infelizmente, não há uma política de salvaguarda desta preciosa herança por parte do município, e, com a reestruturação dos barracões, muitas das siglas dos concessionários acabaram por desaparecer das praias.

Fonte: Vortexmag, consultado a 22 de dezembro de 2022.

Siglas Poveiras – Pequena resenha histórica (2/4)

Na tradição poveira, o herdeiro principal da família era o filho mais novo, pois era esperado ser esse o filho a tomar conta dos pais quando esses se tornassem idosos. Por esse motivo, as siglas originais passavam do pai para o filho mais novo, o herdeiro. Aos restantes filhos era atribuída a mesma sigla acrescida de traços, chamados de “pique”. O número de traços correspondia, então, à ordem de nascença dos filhos. Portanto, o filho mais velho teria um traço, o segundo dois e por aí em diante, até chegar ao filho mais novo que não teria nenhum traço, ficando assim com o mesmo símbolo que o seu pai.

Com o aumento da alfabetização e a modernização das técnicas e instrumentos de pesca, as siglas caíram em desuso nas primeiras décadas do século XX. Seguem presentes como identidade da comunidade piscatória e ostentadas, muitas vezes, como emblemas de famílias, mesmo que se tenham quebrado as ligações com a pesca.

Como referência cultural da Póvoa de Varzim tem enorme apelo para ser aplicada em peças originais e contemporâneas de design, artesanato e peças publicitárias. Recentemente, um novo modelo de placa toponímica para algumas ruas da cidade foi adotado, referenciando-se à sigla. Com esta iniciativa, a Câmara Municipal promove a preservação e valorização da herança linguística e cultural poveira, de uma forma original e única.

O Museu Municipal e a Biblioteca estão, permanentemente, trabalhando com a memória e a investigação sobre as siglas poveiras. O tema desperta grande interesse de outras comunidades com tradições marítimas, tendo sido objeto de exposição de itinerância mundial e de estudiosos nos campos da história da arte e da semiótica.

Fonte:
Póvoa d Varzim – Cidade de Literatura, , consultado a 22 de dezembro de 2022.
Museu Nogueira da Silva, consultado a 22 de dezembro de 2022.

As Marcas Mariñeiras – La Guardia (A Guarda) e Póvoa de Varzim (1/4)

AS MARCAS MARIÑEIRAS. Son un sistema de protoescrita utilizado tamén en Póvoa de Varzim, Portugal.

👉A marca mariñeira utilízase na Guarda para marcar os aparellos da pesca, os útiles propios de cada casa (fose roupa ou mesmo mobles ou utensilios do fogar), os aparellos de labranza… incluso os taberneiros apuntaban no caderno de ventas ao fiado a marca da persoa en cuestión, e a veciñanza lles daban cadansúa marca na Comandancia, a modo de rexistro. En definitiva, as marcas son un símbolo de identidade que teñen ido máis aló do mar, como acontece na Póvoa de Varzim, onde se rexistraron tumbas coas marcas mariñeiras ou siglas poveiras.
👉Este símbolo de identidade era transmitido principalmente de xeración en xeración masculina. Hai algún caso dalgunha muller que posuía aparellos de pesca por herdanza pero, tendo redes e non podendo ir ao mar, estas servíanse do “meeiro”; un mariñeiro que carecía de redes, ou outro aparello de pesca imprescindible para desenvolver o labor. Desta forma, a muller proporcionaba os aparellos que herdou do patrucio e o mariñeiro ía ao mar. Logo, repartíanse a pesca ou a ganancia a medias.
👉Ao igual que acontece noutros oficios considerados masculinos, era habitual que a muller perdese a marca e aparellos herdados en beneficio do marido, que asumía o símbolo do sogro.
👉Hoxe, no dique norte do porto da Guarda podedes gozar dun museo aberto que amosa sobre 300 marcas con elementos da vila.
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(ES)
🔵Las MARCAS MARINERAS. Son un sistema de protoescritura utilizado también en Póvoa de Varzim, Portugal.
👉 La marca marinera se usa en A Guarda para marcar los utensilios de pesca, los útiles propios de cada casa (ropa, muebles y otros utensilios del hogar), las herramientas de labranza… Incluso los taberneros apuntaban en el cuaderno de ventas al fiado la marca de la persona en cuestión, y el vecindario daban su respectiva marca en la Comandancia, a modo de registro. En definitiva, las marcas son un símbolo de identidad que han ido más allá del mar, como ocurre en la Póvoa de Varzim, donde se registraron tumbas con las marcas marineras o siglas poveiras.
👉Este símbolo de identidad era transmitido principalmente de generación en generación masculina. En alguna ocasión, la mujer podía llegar a tener utensilios de pesca por herencia y, teniendo redes pero no pudiendo ir al mar, esta se servía del “meeiro”, un marinero que carecía de redes. De esta forma, la mujer proporcionaba los aparatos que heredó del cabeza de familia y el marinero iba al mar. Luego, se repartían la pesca o la ganancia a medias.
👉Al igual que en otros oficios considerados masculinos, era habitual que la mujer perdiera la marca y la herencia en beneficio del marido, que asumía el símbolo del suegro.
👉En el dique norte del puerto de A Guarda podéis disfrutar de un museo abierto que muestra sobre 300 marcas con elementos de la villa.
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(Bibliografía: Ferreira Lourenzo, A. 1995. “As marcas dos mariñeiros da Guarda”. Anabam)

Fontes:
Atlantic CultureScape / A Guarda – Facebook, consultado a 22 de dezembro de 2022.
Atlantic CultureScape – Website, consultado a 22 de dezembro de 2022.

Notícias: “Livros na rua” no Dia Mundial do Livro.

Para comemorar o Dia Mundial do Livro, a Biblioteca Municipal Rocha Peixoto promove, em parceria com as lojas aderentes na Rua da Junqueira, a iniciativa “Faça compras, receba Livros!” integrada no evento “Livros na Rua”.
No dia 23 de Abril, terça-feira, entre as 10h00 – 12h30 e 14h30 – 18h30, quem fizer uma compra no valor mínimo de 10 euros nas lojas aderentes receberá gratuitamente um livro de edição municipal, até ao limite dos exemplares disponíveis, no espaço da Biblioteca Municipal situado na Rua da Junqueira.
Data: 23 de abril
Horas: 10h00 – 12h30/ 14h30-18h30
Local: Rua da Junqueira

Fonte: CMPV, consultado a 22 de abril de 2019