Realizaram-se 78.374 testes do pezinho até dezembro deste ano, menos 2340 do que em 2019. Significa que a natalidade em Portugal poderá recuar a 2015, quando nasceram 85 mil crianças.
Em novembro, 6665 recém-nascidos fizeram o teste do pezinho, menos 378 do que no mesmo mês de 2019. A diferença negativa tem sido uma constante em grande parte dos meses de 2020, especialmente em outubro, quando se fizeram 7329 testes, menos 1247 do que no mesmo mês do 2019.
Outubro é habitualmente um mês com muitos nascimentos, ultrapassando os oito mil testes do pezinho nos últimos dois anos.
Nos primeiros 11 meses do ano, realizaram-se 76.474 testes, menos 2340 do que em igual período de 2019. Este é um rastreio que é feito a todos os recém-nascidos no âmbito do Programa Nacional do Diagnóstico Precoce, coordenado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.
E, neste ano, os dados obtidos até agora apontam para uma quebra significativa na taxa de natalidade de Portugal comparativamente com 2019, recuando mesmo até 2015. Nesse ano, nasceram 85.056 crianças, subiu para 87.577 em 2016, voltou a descer no ano seguinte, para registar 87.364 no ano passado.
Uma oscilação por centenas de testes nos últimos cinco anos, o que não se verifica em 2020. E, segundo o demógrafo Jorge Malheiros, não há esperanças de que dezembro traga uma grande recuperação a nível da taxa de natalidade por serem já os “bebés da pandemia”.
“Num contexto de contração económica muito forte, cheio de riscos e de incertezas, as pessoas retraem-se, vemos como a natalidade desceu na última crise financeira. Podendo hoje regular a fecundidade, decidir ter ou não filhos, decidem não ter filhos em situações de incerteza. Será difícil recuperar nos próximos meses dado o contexto de tensão social, a incerteza sanitária e o decréscimo económico. O discurso é sempre ‘o pior ainda não chegou’.”
Crises incompatíveis com filhos
O número de nascimentos em Portugal baixou significativamente a partir de 2008, ficando-se pelos 82.367 em 2014, o valor mais baixo de sempre. A partir dai, tem vindo sempre a subir, com pequenas oscilações.
Os testes realizados em janeiro de 2020 (80.432) indicavam que este poderia ser um bom ano para a recuperação demográfica do país, mas desceu bastante em fevereiro, o mês tem menos dias. Em março e abril fizeram-se mais análises do que nos mesmos meses de 2019, a partir daqui foi sempre a descer.
Em termos geográficos, são os grandes centros urbanos a registar mais nascimentos: o distrito de Lisboa (22.925) tem 37% mais testes do que o do Porto (14.396). Seguem-se Braga (6058), Setúbal (5962) e Faro (3983) com mais crianças., o que é uma constante nos cinco distritos com mais crianças.
Em sentido oposto, encontram-se as regiões do interior, com Bragança e Portalegre a registar taxas de natalidade muito baixas, ficando-se pelos 529 e 575 testes respetivamente. Ou seja, em todos os 12 concelhos de Bragança, a média de nascimentos é de 1,44 nados-vivos por dia.
Com o número de óbitos a aumentar, muitos devido à pandemia, o saldo natural da população portuguesa será ainda mais negativo do que em anos anteriores. Outra certeza é, também, o envelhecimento da população. Dados do Instituto Nacional de Estatística indicam que em 2019 havia 161,1 idosos (65 ou mais anos) para cem jovens (entre os 0 e 14 anos).
O índice sintético de fecundidade em 2019 foi de 1,42 crianças por mulher em idade fértil.
Fonte: Diário de Notícias, consultado a 18 de dezembro de 2020.