1. Leia o texto seguinte.
Texto A
Quando lanço um pedaço de madeira seca numa lareira, o meu espírito é imediatamente levado
a conceber que ele vai aumentar as chamas, não que as vai extinguir. Esta transição de pensamento
da causa para o efeito não procede da razão […]. E como parte inicialmente de um objeto presente
aos sentidos, ela torna a ideia ou conceção da chama mais forte e viva do que o faria qualquer
devaneio solto e flutuante da imaginação.
David Hume, «Investigação sobre o Entendimento Humano», in Tratados Filosóficos I, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2002
1.1. Explicite, a partir do exemplo do texto, em que se baseia a ideia da relação de causa e efeito, segundo
Hume.
1.2. Compare as posições de Hume e de Descartes relativamente à origem do conhecimento humano.
Na sua resposta deve integrar, pela ordem que entender, os seguintes conceitos:
−− razão;
−− sentidos;
−− ideias.
Respostas:
1.1. A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados:
– esclarecimento de que «objeto de conhecimento» não se refere necessariamente ao mundo exterior ou
material;
– definição do objeto de conhecimento como representação mental, ou imagem;
– articulação do conceito de «objeto de conhecimento» com o conceito de «sujeito de conhecimento»,
identificando o objeto de conhecimento pela possibilidade de ser conhecido por um sujeito.
1.2. A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados:
– afirmação de que a relação de causalidade em Hume se baseia unicamente na expectativa e no hábito
ou costume, como inferência a partir da experiência;
– caracterização da relação de causa e efeito segundo Hume como ligação entre fenómenos que se
sucedem temporalmente, de forma regular e constante, e não como conexão necessária;
– aplicação da ideia de relação causa e efeito ao exemplo, explicando que a relação entre a madeira seca
(considerada causa) e o atear das chamas na lareira (considerado efeito) não pode ser logicamente
deduzida (não é necessária), mas procede unicamente da experiência anterior repetida, que gera a
expectativa.